Conhecer o Morro do Vidigal era o motivo principal de nossa visita ao Rio de Janeiro. Neste post, contamos sobre a história e nossas primeiras impressões sobre essa famosa comunidade.
Dia 01: Morro do Vidigal, O que são as UPPs, Como Chegar, Primeiras Impressões, Onde se Hospedar
Dia 02: Morro Dois Irmãos, Bloco de Maracatu, Lapa (Arcos da Lapa e Escadaria Selarón) e Santa Teresa
Dia 03: Praia do Vidigal, Bloco de Carnaval, Resumo dos Gastos
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Dia 01
Morro do Vidigal
Por que conhecer?
Estávamos saindo ansiosos de São Paulo, essa seria a nossa primeira experiência em uma favela. Vindos de famílias de classe média, onde sempre tivemos tudo o que precisávamos e sempre protegidos em nossas bolhas, nunca havíamos chegado perto de um lugar assim no Brasil.
Escolhemos a Favela do Vidigal por diversos motivos, principalmente por sua localização, segurança e popularidade, expressos pelos seguintes fatores:
- Fica perto das praias da Zona Sul, Leblon e Ipanema;
- Grande número de moradores viram artistas, cantores, dançarinos, e etc. Ela é conhecida por seu potencial artístico;
- O número de hostels e de pessoas indo visitar o Vidigal era expressivo no momento;
- Não haviam registros de violência policial, ou confronto de facções recentemente.
E por que é assim?

O que são as UPPs
E como influenciam a comunidade.
Em 2008 foram implementadas pelo Governo do Rio de Janeiro as UPPs, ou Unidades de Polícia Pacificadora, uma ação resultante de uma estratégia tomada em conjunto pelas esferas municipal, estadual e federal do poder público.
O objetivo dessa política é combater e desarticular o crime organizado do tráfico de drogas nas comunidades e favelas, e diminuir a violência nesses locais.

A teoria das UPPs é boa e o resultado muitas vezes positivo, mas sua ação é bastante criticada devido a denúncias de abusos policiais através da tortura de civis em busca de informações, invasões ilegais e agressivas a domicílios que não possuem relação com o tráfico, cobrança de pedágios nas entradas das comunidades e desaparecimento de pessoas.
Um desses casos se tornou bastante famoso, é o caso do pedreiro Amarildo de Souza que desapareceu depois de ser levado a uma Unidade de Polícia Pacificadora.
Além disso, em algumas comunidades as UPPs ainda lutam para assumir o controle, o que resulta em uma série de confrontos entre polícia e facção, com direito a tiroteios e inocentes mortos.
No Vidigal as UPPs se instalaram somente em 2012, mas desde então a favela é considerada segura. Embora relatem enfrentar alguns problemas de autoridade, muitos moradores consideram ser uma vitória para a comunidade.

Os resultados dessa política são mesmo bastante controversos para a comunidade. E através de conversas com locais pudemos entender os seguintes pontos positivos e negativos das UPPs na Favela do Vidigal:
Positivos:
- Diminuição da violência
- Maior reconhecimento dos artistas locais
- Crescimento do setor turístico
Negativos:
- Proibição de festas
- Visita e inspeção de casas de moradores
- Especulação imobiliária
Devido a especulação imobiliária por exemplo, moradores que nasceram na comunidade estão precisando se mudar por que não conseguem mais arcar com o aluguel de onde sempre moraram.
Enquanto isso, famosos como David Beckham constroem casas de férias por lá.

Como Chegar no Vidigal
É possível chegar de transporte público.
Chegamos no Rio de Janeiro sexta-feira a noite pelo Aeroporto Santos Dumont, e pegamos bem na frente do aeroporto o ônibus 2018 da Real Auto Ônibus.
Esse ônibus custou R$13,50 por pessoa e em mais ou menos 40 minutos nos deixou na Avenida Niemeyer. A avenida que dá entrada para a Favela do Vidigal.
Entramos no ônibus e pedimos para o motorista nos avisar quando chegasse o ponto. Quando chegamos, ele nos gritou e nos desejou um bom final de semana com muita simpatia. Iniciamos nossa viagem com bons pressentimentos.

Diferente do que muitos dizem (ou do que a maioria dos paulistas dizem), que no Rio de Janeiro as pessoas são mal educadas, arrogantes, que todas querem passar a perna em você, e que o Rio seria maravilhoso se tirássemos todos os cariocas de lá…
Não passamos por nenhum momento de desconforto em relação a isso em nossa viagem para o Rio (e em minhas outras 2 viagens para lá). Todos nos receberam muito bem.
Para falar a verdade, acho a maior balela essa rixa entre São Paulo e Rio de Janeiro. Desabafo, rs.

Primeiras Impressões da Favela do Vidigal
Chegamos em uma sexta-feira à noite.
Descemos do ônibus e demos de cara com a comunidade dançando ao som da Acadêmicos do Vidigal.
Foi lindo ver o pessoal reunido na praça sambando com muita alegria e união.
E do lado, bem no início da subida para o morro, vimos alguns policiais com armas gigantescas nas mãos. Gelei, eu nunca tinha visto aquilo, e naquele momento fiquei com medo.

Decidimos ficar assistindo um pouco a escola de samba tocar até tomarmos coragem para subir o morro. Para subir você tem 4 opções:
- A pé
- De carro (ou táxi, mas dificilmente eles sobem com você)
- De mototáxi
- De van
Parece que à noite não existem muitas vans circulando por lá, então pegamos um mototáxi.
Eu que já não sou muito acostumada a andar de moto, morri de medo com a velocidade e com as curvas que estávamos fazendo. Além de ver o motorista passando por cima de calçadas, ele estava entrando em um cenário que parecia sombrio à noite.
Onde se Hospedar no Vidigal
Opções de hostels.
Pagamos R$3 pelo mototáxi, mas alguns relatos na internet falam sobre turistas que pagaram de R$5 a R$10.
Havíamos reservado nossa hospedagem no Mirante do Arvrão, o hostel mais chique do Vidigal. Sim, rs.
O valor é bem acima da média, pagamos R$210 a diária para o casal, mas a vista do lugar é sensacional. O hostel tem quartos compartilhados, mas a estrutura é muito mais para um hotel do que para um hostel.

A construção do lugar foi feita com materiais reciclados e por um arquiteto renomado. E na parte inferior do hotel acontecem muitas festas, que depois descobrimos não fazermos parte do público-alvo, rs.
Chegamos com fome e pegamos alguns folhetos de restaurantes que faziam entrega. Decidimos pedir um yakisoba em um restaurante japonês, e fomos até a recepção já que no nosso quarto não tinha telefone:
– Oi, como podemos ligar para o restaurante?
– Do seu celular.
– Ah, sim, mas você pode emprestar o telefone?
Talvez seja essa a birra de alguns paulistas por alguns cariocas, mas entendemos que faz parte da cultura do lugar, rs.

Devido ao horário, depois das 23h, ficamos apenas observando o Rio de Janeiro à noite da varanda do nosso quarto e ouvindo o som eclético da balada que acontecia embaixo.
As festas no Mirante do Arvrão tocam todos os hits das rádios, e as pessoas vão muito bem arrumadas. Nada contra, mas não é o tipo de festa que a gente costuma frequentar.